Quinta, 18 Abril 2024

O bicho tá pegando na área cultural de Santos por causa de problemas no Fundo Municipal de Cultura, mas vou continuar escrevendo sobre literatura. Até porque sou parte interessada: do valor total disponível em edital, só um pouco mais da metade realmente será distribuído entre 17 projetos (a expectativa era em torno de 30). O autor aqui da coluna acabou como primeiro suplente em um universo de redução de recursos, uma Antígona (que pretensão) vitimada pelo Creonte-Estado de fundo pela metade. Tragédia ou comédia?

Oras bolas, como diria Mário Quintana, vou mais é voltar a escrever sobre o escritor chileno Roberto Bolaño (1953-2003) nesta série que comecei sobre Americanidades. A exposição (ainda se pode usar exposição ou devo redigir um termo “divertido”, que as pessoas “entendam”?), bem, a exposição de hoje será uma síntese de uns três ou quatro artigos anteriores em que tratava do próprio Bolaño (seu discurso que escreveu para receber o prêmio Rômulo Gallego e, em outro texto, passagens do romance Estrela Distante (1996, editado em português em 2010) e do autor uruguaio Mario Benedetti (1920-2009) e seu romance de testemunho Primavera con una esquina rota (1982, momento de redemocratização no Cone Sul, traduzido no Brasil por Primavera num espelho partido).

I
Relacionar as duas obras me remete a uma preocupação da ensaísta argentina Beatriz Sarlo que venho repetidamente repetindo aqui: a de que a ficção, em relação aos temas sul-americanos, deveria avançar para além do testemunho, isto é, buscar novas perspectivas narrativas e registros literários que não se limitem às memórias em primeira pessoa ou aos relatos dos sobreviventes e daqueles em exílio durante as ditaduras no Chile, Argentina, Uruguai e, lógico, Brasil).

É esse avanço, da memória e da experiência imediata para a fabulação e reflexão (ainda que na forma da ficção) que constatamos ao colocar lado a lado as obras. Não é nunca, insisto nisso, uma questão de gostar mais de um ou o outro ser melhor, mas sim de como a teia ficcional se redesenha ao longo do tempo e da sucessão de livros e leituras.

Clique aqui para ler a segunda parte deste artigo.

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