Quinta, 28 Março 2024

Clique aqui para ler a primeira parte deste artigo.

II A paisagem na poesia
O mistério do mar e a distinção da montanha. Por isso, retomo aqui o poeta peruano Javier Heraud (1942-1963), que tenho traduzido aos poucos neste Porto Literário. Na parte 4 de seu longo poema dedicado ao outono, “À espera do outono”, Heraud usa os dois elementos para descrever a expectativa pela chegada da estação:

4

Estou à espera do outono.

Agora que tudo parece desmoronar

estou esperando pelo outono,

depois viajaremos pelos mares,

agora estou à espera do outono,

depois assinalaremos os culpáveis,

estou esperando pelo outono,

mais adiante conhecerei as montanhas ignoradas,

tem que se aproximar já o outono,

depois pensaremos nos reinos arruinados,

agora estou à espera do outono,

em outro momento leremos os poemas esquecidos,

em outro momento as cartas recebidas,

depois escreverei os dias do verão,

depois os dias do inverno.

 

Agora e sempre,

como todos os anos

na mesma época do ano,

agora e sempre,

estou à espera do outono,

do mesmo eterno outono,

do outono das árvores,

do outono das luzes,

do outono das casas e das flores.

Agora e sempre,

estamos esperando pelo outono,

estamos à espera do outono,

esperando pelo outono,

à espera do outono,

do mesmo outono.

Talvez seja um turvamento causado pela leitura, mas a música e o encadeamento dos versos de Heraud não sugerem uma névoa verbal equivalente à da paisagem de Turner?

Referências
Jorge Luis Borges. Sobre a amizade e outros diálogos. Organização e tradução: John O’Kuinghttons. São Paulo: Hedra, 2009.

Javier Heraud. En espera del otoño. In: Estación Reunida (Lima, 1961). In: Poesía Reunida. Lima, Peru: Peisa, 2010.

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