Quinta, 28 Março 2024

Clique aqui para ler a primeira parte deste artigo.

III
A nova versão

Provocada pelo programa, a releitura do ensaio – “O som da maré” – me fez notar um comentário de Brodsky sobre o segundo verso, que me levou a nova versão. Tudo começa quando ele apresenta os versos, uma aula poética:

Esta estrofe lépida nos informa tanto sobre seu autor quanto um canto – poupando-nos de olhar pela janela – nos diz que há um pássaro lá fora. O ’love’ dialetal [a norma indica who loves] nos diz que está falando sério quando se diz ’a red nigger’. ’A sound colonial education’ pode muito bem se referir à Universidade das Antilhas, onde Walcott se formou em 1953, embora este verso ainda diga mais coisas, como veremos mais adiante. No mínimo, ele nos transmite tanto desprezo pela locução típica da raça senhorial quanto o orgulho do nativo por receber esta educação.

Como prometido, ele volta ao segundo verso da estrofe como um componente decisivo em suas considerações e conclusões, quando fala que a “sabedoria da língua” se manifesta em sua poesia:

É nisto que consiste a ’sound colonial education’; é isto que significa ter ’English in me’. Com o mesmo direito, Walcott poderia ter dito ser grego, latim, italiano, alemão, espanhol, russo ou francês: por causa de Homero, Lucrécio, Ovídio, Dante, Rilke, Machado, Lorca, Neruda, Akhmatova, Mandelstam, Pasternak, Baudelaire, Valéry, Apollinaire. Não são suas influências – são as células de seu sangue, não menos do que Shakespeare ou Edward Thomas, porque a poesia é a essência da cultura mundial.

Daí, então, a nova versão, que busca o som e os ecos e, por isso, mesmo adota “sonora educação” no lugar de “sólida” e outras soluções sonoras:

Eu sou um negro ruivo qu’adora o mar,

eu tive uma sonora educação colonial,
eu tenho holandês, negro e inglês em mim,
e não sou ninguém, ou uma nação.

Referência
Joseph Brodsky. O som da maré. In: Menos que um: ensaios. Tradução Sergio Flaksman. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

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