Quinta, 18 Abril 2024

A sorte de certas cidades é determinada por vezes pelas decisões acertadas que suas lideranças tomam no momento exato. Se deixam escapar a oportunidade podem perder para sempre a chance que a história lhes deu. Há quase dois séculos, Nova York, a maior cidade da América do Norte, poderia ter estagnado, virando um pequeno porto sem grande importância. Porém foi exatamente a consciência do perigo que pairava sobre o seu futuro que fez com que a comunidade nova-iorquina, o povo, os comerciantes e o seu prefeito, pusesse mãos à obra para fazer dela a capital do mundo.

Ao tomar conhecimento, em 1803, de que o presidente Thomas Jefferson acelerava os negócios com Napoleão Bonaparte para a aquisição do território da Lousiana, DeWitt Clinton, o prefeito de Nova York entrou em ação. Clinton, filho de um ex-governador, um mandão, um grandalhão de 1,90 m que facilmente era tomado de furores, percebeu de imediato as conseqüências negativas que aquilo poderia trazer para a sua cidade. Desde os metade do século XVII, Nova York se transformara num dos portões da América. O estuário do rio Hudson, de fácil navegação, a proteção que a ilha de Mannhattan dava ao barco desejoso de lançar ferros, a posição estratégica da cidade - a meio-caminho entre a Nova Inglaterra, ao norte, e a rica Virgínia do tabaco, ao sul, fizera dela o local ideal para quem vinha tentar a sorte no Novo Mundo.

Com a Louisianna Purshase, como os americanos chamavam a grande aquisição, porém, o caminho do meio-oeste poderia começar bem mais ao sul, na cidade de Nova Orleãs, nas margens do Golfo do México. Desaguadouro do Missouri-Missippi, com clima tépido, desconhecendo frios intensos que assolavam Nova York, ela seguramente atrairia no futuro as levas de imigrantes e o dinheiro da Europa. Isso posto, secaria o grande porto dos ianques. DeWitt Clinton não cruzou os braços olhando o desastre se aproximar.

Criaram-se as condições para um plano há muito sonhado pelos comerciantes da cidade, pelo menos desde 1724, quando Cadwallader Colden deu a idéia: ligar Nova York ao interior do país pela construção de um canal. Possibilidade, diga-se, também avalizada por Robert Fulton, o inventor do barco a vapor, em carta ao presidente G. Washington, em 1797. Os ianques, então, orientados pelo engenheiro-chefe Canvass White, lançaram-se com afinco e com dinheiro na construção do "seu" rio Mississippi. Um imenso conduto, o canal do Erie, com 580 quilômetros de extensão e 72 eclusas, foi escavado a pá e picareta, rasgando a terra da periferia de Nova York - passando por Albany, Syracuse e Rochester - até Búfalo, na margem do lago Erie.

O projeto, pela grandeza e pela ambição, parecia coisa de dementes. Jefferson, de resto um homem de excepcional visão panorâmica, negando-se a pôr dinheiro federal na obra, apelidou-o de "a loucura de Clinton". Os jornais da Filadélfia, despeitados, viram Clinton como um césar ianque de ambições imperiais. De 1817 até 1825, milhares de trabalhadores e de bons engenheiros levaram adiante o empreendimento. Nos procedimentos da inauguração, DeWitt Clinton convidou o chefe indígena Seneca para acompanhá-lo na grande viagem de 11 dias de Búfalo até Nova York. A bordo trouxe dois baldes de água do lago Erie para lançá-la no Oceano Atlântico, em 26 de outubro de 1825, em meio a euforia da população. Na volta, o chefe Seneca levou consigo dois outros da água salgada do Atlântico para derramá-la no lago Erie.

Ao sugar a sempre crescente economia do oeste, trazendo pelo canal trigo, carvão, madeira, ferro e sal, e levando tudo o que os colonos precisavam, o porto que antes era o quinto da América do Norte (antes dele vinha Boston, Baltimore, Filadélfia e Nova Orleãs), tornou-se o primeiro na década de 1840. Posição que até hoje não o desbancaram. A façanha da gente de Nova York permitiu que um produto qualquer que saísse da Europa chegasse diretamente ao coração do meio-oeste norte-americano em tempo singularmente curto. A tecnologia que desenvolveram ao arquitetarem as eclusas, permitiu que noventa anos depois, em 1914, o Canal do Panamá fosse aberto pelos engenheiros americanos sobre as mesmas bases. Mas Nova York deu outra lição ainda ao resto da América.

Em 1803, esse mesmo Clinton, ainda prefeito, bem antes do empreendimento do canal, comandou uma comissão para fazer um traçado definitivo para a ilha de Manhattan. Os urbanistas da época imaginaram dividi-la nos moldes de uma grade, onde largas e longuíssimas avenidas, norte-sul, eram permeadas por quadras relativamente curtas. Todas elas, as 14 avenidas e as 172 ruas, numeradas, para que os recém-chegados, desembarcados de todos os lugares do mundo, falando as línguas mais inimagináveis, facilmente se locomovessem através da cidade.

O interessante para quem vê o projeto urbano da ilha de Mannhattan, de 16 milhas de comprimento, pouco mais de 25 quilômetros, é que o seu traçado - uma metáfora da razão dominando a natureza - serviu como piloto para algo muito mais importante que iria dar-se ao longo do século XIX, a distribuição das terras pelo Oeste até as margens do Pacífico. A forma quadriculada serviu de inspiração para que a ocupação territorial do país seguisse o mesmo desenho, fazendo com que os limites dos estados americanos a ela se assemelhasse. E foi assim que Nova York fez por modelar a América inteira à sua imagem.

Walt Whitman, o melhor e maior poeta que a cidade produziu, andando pelas margens do rio Hudson, olhando a bela baía de Nova York, repleta de navios de todos os tipos, indo e vindo, exaltou-a na ode Mannahatta (1860). Cantou as ruas apinhadas pelas multidões, os edifícios de aço, esbeltos, fortes, leves, em esplêndido contraste com o céu, as correntes marinhas cercando as pequenas ilhas, os altos, as vilas, os inumeráveis mastros, as lanchas e as fumaças brancas e escuras dos vapores misturando-se no ar. No centro da cidade, as casas de negócios. No porto, registrou a chegada dos imigrantes, milhares deles por semana, as carroças trazendo alimentos, a disparada dos cavalos pelas ruas e as caras bronzeadas dos marinheiros.

A chegada de um barco a vapor, em 1838.

 

 

 

 Fonte: História – Mundo – Nova York, capital do mundo

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