Quinta, 28 Março 2024

É quase impossível passar pela Ponta da Praia, em Santos, e não se deparar com imensas embarcações entrando e saindo do Porto. Não é preciso ser um apaixonado pela navegação para ao menos perceber a beleza de um navio trafegando bem ali a poucos metros dos nossos olhos. É... essa imagem está à disposição dos santistas, todos os dias. Mas, são mesmo os turistas que realmente fazem questão de apreciar essa paisagem. 

 

O que muitos não sabem é que a bordo desses navios está um profissional de extrema importância e responsável pela segurança da navegação. Além da tripulação composta pelo comandante, oficiais e marítimos, o navio tem um verdadeiro guardião. O prático é uma espécie de consultor que assessora o comandante durante a manobra que direciona o navio conforme a ordem dada pelo prático. É uma relação de total cumplicidade.

 

Dia-a-dia

 

O prático é acionado pelo Centro de Operações da Praticagem com uma hora de antecedência à chegada do navio à barra. Ao chegar na ponte de embarque, o prático veste o colete salva-vidas e as luvas e aguarda o navio se aproximar a duas milhas (cerca de 3.600 m). Embarca na lancha e vai de encontro à embarcação.

 

Para embarcar o prático, o mestre da lancha se aproxima bem da escada do navio e, num ato certeiro, o prático segura firme na corda e sobe em direção aos oficiais do navio. Por incrível que pareça, este é um dos momentos mais críticos do trabalho do prático. Qualquer deslize ou titubeio pode causar um acidente, no mínimo uma queda no mar.

 

Ocorrendo tudo perfeitamente, o prático se dirige à sala de comando onde fica o capitão. A partir desse momento, o  navio é entregue ao prático. Todos os movimentos que fará até a atracação são definidos pelo prático. O comandante se quiser, por motivos óbvios de hierarquia, pode discordar do prático. Mas, essa é uma situação rara de acontecer. É importante não haver vínculo pessoal entre o prático e o comandante do navio, estando acima de tudo o respeito e a cordialidade.

 

Com mais de 18 mil embarques, o prático Fábio Mello Fontes, que preside a Praticagem, explica que uma manobra de navio é um exercício de inteligência e experiência. De acordo com ele, o  prático brasileiro precisa estar sempre ligado na reação da natureza, para poder decidir a manobra mais adequada para aquela determinada condição. 

 

Quando o navio está a 600 metros do ponto de atracação, o prático aciona, via rádio VHF (very high frequency, ou alta freqüência, na tradução do inglês), os rebocadores que vão auxiliar durante a finalização da manobra. Começa, então, uma verdadeira maestria. É emocionante acompanhar de perto o raciocínio do prático. Não pode haver falha. Qualquer ordem equivocada pode ser difícil de corrigir e ainda comprometer a segurança do navio e das instalações portuárias.

 

A comunicação praticamente simultânea entre prático e comandante e prático e rebocadores precisa ser ágil e segura. A sensação é de que  o navio vai bater, de que não vai caber naquele determinado espaço., de que não vai dar tempo. Enquanto todos esses pensamentos passam pela cabeça, Fontes está ali tranqüilo, calmo e totalmente seguro de si. É impressionante ver a habilidade e o domínio técnico que ele emprega durante toda a manobra. Mais alguns minutos e o navio atraca paralela e perfeitamente no cais. Observo o prático e no seu rosto a satisfação de mais uma manobra perfeita.

 

Somente depois de totalmente finalizada a operação é que os rebocadores são liberados pelo prático. O prático, então, retira um documento assinado pelo comandante com dados sobre a manobra e se despede de toda a tripulação. Fim do trabalho. Embarca novamente na lancha da Praticagem que o leva de volta. No Centro de Operações aguarda pelo próximo chamado.

 

Ser um prático

 

Para ingressar na carreira de prático é preciso participar de um concurso público promovido pela Marinha, responsável pela seleção de pessoal. Sendo aprovado no exame, o aspirante a prático acompanha durante um ano e meio o serviço de todos os práticos. O praticante tem que cumprir um número mínimo de manobras por cais de atracação, sendo metade de dia e a outra metade à noite. Depois dessa fase, a Marinha submete o praticante a vários exames. 

 

Fontes lembra de quando soube de que haveria um concurso para prático. Aos 28 anos e com três filhos, não hesitou. Deixou a família no Rio de Janeiro e voltou para a casa dos pais na cidade de Santos para se dedicar ao concurso. Durante sete meses  estudava 16 horas diárias. Sabia que a concorrência era grande. Havia apenas quatro vagas para 680 candidatos. Ele nunca havia pensado em ser um prático, mas diante das más condições em que se encontrava a Marinha Mercante no final da década de 60, resolveu mudar de carreira.

 

Ele lembra ainda com emoção do dia da prova. “Eu comecei a olhar as 200 questões e quase tive um infarto. Eu sabia tudo. A minha dúvida era quantos outros candidatos também saberiam tudo”. O resultado não poderia ser diferente. Conseguiu o primeiro lugar com 86% de aprovação. O segundo colocado conseguiria 70% de acerto.

 

A vontade de aprender era tanta que com 15 dias manobrava basicamente sozinho. Depois de 18 meses fez a prova e foi promovido a prático. Na noite anterior a sua primeira manobra já como prático mal conseguiu dormir de tanta ansiedade.

 

Ainda hoje, aos 66 anos de idade e 36 de prático mantém o mesmo entusiasmo do primeiro dia. E fala, convicto: “Você quer me ver feliz, é me ver a bordo de um navio manobrando. Eu me transformo. Se tiver saúde física e mental trabalho até os 80”.

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