Sábado, 20 Abril 2024

* enviada especial à Operação Unitas

 

Vinte e seis de outubro de 2005. O dia de maior expectativa para toda a tripulação da Rademaker durante a 47ª. Operação Unitas. Era o dia do exercício AAW-13-SF. Era também dia de visita ilustre, do comandante da 2ª Divisão da Esquadra, contra-almirante Carlos Augusto de Sousa. E era dia de ver na prática o resultado de um trabalho de toda uma equipe valente. Definitivamente, um dia de fortes emoções.

 

No café da manhã, uma energia diferente banhava a Praça d' Armas. A breve conversa já demonstrava o pensamento dos oficiais: "Hoje é dia", "estou pronto para o combate", "vamos destruir o alvo", confidenciavam-se.

 

Durante a manhã, além da expectativa para o exercício de tiro real antiaéreo com lançamento do míssil Seawolf (lobo-do-mar) os oficiais se preparavam para a chegada do contra-almirante vindo da fragata Independência.

 

Por volta do meio dia, parte da tripulação aguardava no hangar o desembarque do comandante e do chefe do estado-maior do comando da 2ª Divisão de Esquadra, o capitão-de-fragata Carlos Frederico Carneiro Primo que vieram especialmente acompanhar e prestigiar o exercício da Rademaker.

 

No início da tarde, todos em postos de combate para o evento que viria a seguir. No passadiço, local onde acompanhamos o exercício, o clima era de extrema concentração. Do lado de fora a tripulação vestia roupas especiais para a faina: capuz, protetor auricular, luvas.

 

O exercício consistia em alvejar um Drone a jato controlado via rádio com um tiro de míssil superfície-ar Seawolf de velocidade supersônica. Os navios se posicionaram em coluna, na seqüência: Rademaker (guia), Ross, Almirante Brown, Independência, Santa Maria, Robinson, Jaceguai e Samuel B. Roberts, a uma distância de 1000 jardas entre cada um deles.

 

Na primeira fase, o Drone é lançado pela Samuel B. Roberts e percorre em ziguezague os navios em formatura que buscam fazer com que seus radares façam o tracking. Estabelecido isto, o radar consegue fazer sozinho o acompanhamento do alvo. Daí, são fornecidos dados como distância, altitude, velocidade. É a solução de tiro onde tudo vai ser calculado levando em consideração o vento, rotação da Terra, etc. Dessa maneira, a precisão do tiro é maior. Os dados são colocados no computador que fornece a posição exata  para a execução da corrida de fogo.

 

Na primeira etapa, várias corridas. Seca para alguns e de fogo para outros. Tanto na corrida de fogo quanto na corrida seca os navios têm solução de tiro. A diferença é que na corrida de tiro os navios realmente atiraram com canhão, só que utilizando uma descalagem para não acertar o alvo. A Rademaker aguardaria pela segunda etapa.

 

Passaram-se horas até esta fase iniciar. A tripulação se mantém firme a postos. No passadiço, acompanhavam o exercício atentos o contra-almirante Carlos Augusto, o comandante Primo e o comandante Randolfo. O binóculo passava de mão em mão. 

 

O combustível do Drone acaba e o avião cai no mar. Sai de formatura a Samuel B. Roberts para recolhê-lo. A fragata americana retorna a sua posição e lança o Drone reserva para a segunda fase. 

 

Nesta etapa, por precaução, a distância entre a Rademaker e o Ross era de 3000 jardas. Desta vez, a fragata brasileira Rademaker deveria destruir o alvo.

 

Ainda haveria mais uma hora de espera. A ansiedade era tanta que pouco se falava na estação. Todos com um único objetivo: ver o alvo detonado

 

Pelos rádios, informações a todo instante. No COC (Centro de Operações e Combate) o comandante Newton Costa com mais 25 oficiais planejava e ordenava cada movimento do navio. Lá no passadiço, toda a equipe ouvia as instruções com o máximo cuidado.

 

Teve um tenente que chamou muito a atenção pela sua concentração. Algo impressionante, difícil até de descrever. O nome dele é Lázaro. Um jovem comprometido com a Marinha. Seguro, incansável, eficiente. Não conversei com ele mais do que duas vezes durante os dez dias, mas nem precisava.

 

Todo o navio numa mesma respiração. O Drone se aproximava da Rademaker. Vigiávamos cada movimento dos casulos. Primeiro uma corrida seca. Nas nossas cabeças fazíamos a contagem regressiva para o grand finale. A corrida de fogo chegara.

 

Num movimento rápido, o casulo de nº 2 se abriu e sentimos a vibração do míssil sendo lançado em direção ao Drone. Apenas quatro segundos. Este foi o tempo necessário para o míssil destruir o Drone a uma distância de cinco quilômetros. 

 

Explosão de alegria. A emoção contida durante meses de muito trabalho e treinamento foi extravasada em lágrimas. Todos comemoravam o êxito do exercício. Aqueles homens, juntos, unidos, se abraçavam e diziam: "Conseguimos! Alvo destruído".

 

Fomos contagiados por toda aquela aura de emoção. Não conseguimos conter as lágrimas...

 

Ao abrir a porta do passadiço mais uma cena comovente. O semblante de satisfação do comandante traduzia o sentimento de glória. Inesquecível. Ele rapidamente seguiu em direção aos oficiais. Era preciso abraçá-los, parabenizá-los pelo sucesso. Do lado de fora, o brilho no olhar emocionado dos sargentos.

 

O comandante e encarregado geral do armamento (EGA), Josean Alves Pinheiro, conta como foi a sua experiência no COC. "Eu estava tão tenso que não me lembro de ninguém ter falado "radar trecado, alvo na distância". Só escutei três coisas: o apito do tracking, ou seja, o radar indo para cima do alvo, o barulho do míssil saindo e o alvo sendo destruído. É a única coisa que ouvi. Estava totalmente concentrado. O pessoal começou a comemorar e a gritar "alvo destruído!". Eu não fiz nada, fiquei olhando para tela do radar. Dei um suspiro e pronta”, conta com naturalidade. 

 

Quando saiu do COC, foi de encontro a um sargento que lhe disse baixinho: "chefe, alvo destruído. Missão cumprida". "Aí, sim, me emocionei", declara Josean.

 

Orgulhoso pela atuação da Rademaker, o comandante Newton falou sobre o lançamento. “Nós tivemos sucesso de lançar bem, com desempenho muito bom do nosso sistema de armas e derrubar o Drone. Isso significa que tudo que nós preparamos durante um tempo grande, deu resultado. O navio está em condições de se defender e defender a nossa esquadra com esses sistemas que a gente tem”.

 

É realmente de se orgulhar quem participa e presencia um resultado como esse. Fomos coroados naquela tarde de primavera.

 

Sabor especial

 

O resultado feliz deste exercício teve comemoração dupla. Um acidente ocorrido na Operação Fraterno 2004, entre a Marinha do Brasil e a Marinha da Argentina, ocasionou danos à Rademaker. Durante um exercício, o navio argentino errou o tiro de canhão que deveria acertar uma granada e acabou alvejando o passadiço e parte da fragata brasileira. Por sorte, não houve vítima fatal. O casulo nº 2 do míssil Seawolf fora atingido.

 

O EGA lembra do momento do incidente. "Estava no COC quando ouvi o barulho em cima da minha cabeça. O pessoal estava guarnecido no canhão, aí pensei que havia explodido o nosso canhão e que todos haviam morrido. Quando soube da noticia de que nós tínhamos sido alvejados e que ninguém ficou gravemente ferido, fiquei tranqüilo". 

Foram quatro meses de reparos dia e noite. É possível imaginar a expetativa que girava em torno deste exercício. Era o fruto do trabalho que estava à prova. Por mérito e justiça divina foram consagrados duplamente.

Veja o que já foi publicado:
* Diário de Bordo #5
* Diário de Bordo #4
* Diário de Bordo #3
* Diário de Bordo #2
* Diário de Bordo #1

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