Terça, 23 Abril 2024

O presidente binacional da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, detalhou as estratégias chinesas para aquisição e construção de ativos de infraestrutura no Brasil a conselheiros e patrocinadores do Fórum Brasil Export, durante videoconferência exclusiva realizada na tarde desta segunda-feira, 25 de maio. Autor do livro "Brasil e China: Modelos de Prosperidade Econômica", explicou que o país asiático emprega uma “economia de mercado socialista” com características próprias, que o Estado chinês aposta em um futuro próspero para o Brasil e por isso fomenta uma aliança estratégica comercial entre as duas nações.

charles tang brasil china

Vivendo no Brasil desde seus 24 anos, Tang disse estar procurando áreas portuárias para movimentação de graneis, especialmente soja, a pedido de associados chineses. “Quase compramos um terminal de grãos em Imbituba [há alguns anos], mas infelizmente investidores belgas bateram o martelo enquanto analisávamos a situação. Continuo procurando [um espaço] na região Sul para exportar soja”. Ele ressaltou, também, o investimento em andamento do grupo estatal China Communications Construction Group (CCCC) na Baía de São Marcos, no Maranhão, em um terminal privado preliminarmente chamado de Porto São Luís, próximo ao porto público do Itaqui. No caso dos terminais portuários, o objetivo dos chineses, apontou o presidente da Câmara, é adquirir os ativos e também operá-los.

No segmento de ferrovias, Tang afirmou que os chineses só irão participar da construção de trechos estratégicos caso o governo brasileiro ou grandes tradings firmem contratos garantindo receita ou movimentação mínima que viabilize a operação financeira. A “menina dos olhos” do Governo Federal é a Ferrogrão, com trajeto que ligaria Sinop (MT) a Miritituba (PA). A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, retornou de feira realizada em Xangai em maio de 2019 anunciando interesse de investidores chineses em arcar com o projeto inicialmente orçado em cerca de US$ 3,3 bilhões. Neste caso, as obras seriam tocadas por empreiteiras brasileiras por meio de regime de parceria, compra ou de subcontratação pelos representantes da China.

Outra possibilidade que empolga aos chineses, informou o palestrante, é a construção de uma ligação ferroviária, denominada bioceânica ou transoceânica, entre o litoral do Brasil e a costa do Pacífico, no Peru. De acordo com ele, a China Railway teria interesse em viabilizar essa ligação pelo fato de o escoamento das cargas pelo Pacífico reduzir a distância e o tempo do transporte entre os territórios brasileiros e chineses em até 50%. O trem bala para passageiros, hoje quase relegado ao esquecimento, ligando os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro também desperta a atenção do governo chinês, desde que os órgãos ambientais facilitem e agilizem a alocação de recursos financeiros, acrescentou.

O seu otimismo na intensificação das relações comerciais entre Brasil e China, observou Tang, reside no fato de os chineses serem obrigados a importar petróleo e alimentos para abastecimento da população. “O Brasil tem muito mais oportunidades naturais do que a China ou o Japão para se tornar uma potência mundial. No entanto, para se desenvolver, o Brasil depende de uma política industrial forte. E de ajustes sociais. A casta inferior tem muitas obrigações e poucos direitos, a casta superior tem muitos direitos e poucas obrigações e os ‘marajás’ tratam de se locupletar do Estado”.

Política e relações internacionais

O presidente da Câmara de Comércio e Indústria criticou os recentes ataques à China feitos por importantes nomes do Governo Federal, como o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e alguns dos ministros de Estado, mas minimizou a possibilidade de o incômodo diplomático desestabilizar a rede de negócios entre as duas nações. “Temos problemas com alguns brasileiros que por razões de ideologia tomaram posições que prejudicam os interesses do Brasil. Em geral, a relação continua boa. É claro que se os ataques à China continuarem podem provocar reação parecida à adotada contra a Austrália, como o corte de importações de vários produtos e frigoríficos sendo desqualificados. Não acredito que chegue a esse ponto. A visita de Bolsonaro [em 2019] foi importante. Ele voltou entendendo melhor a China e impressionado com a economia”.

Em relação ao antagonismo entre China e Estados Unidos, Tang observou que o enfrentamento comercial entre as duas potências econômicas “não nasceu e não vai terminar com [Donald] Trump”. Ele disse acreditar em uma pequena redução na fabricação de determinados produtos na China – a nação asiática produz, por exemplo, aproximadamente 90% dos insumos farmacêuticos utilizados em todo o planeta -, o que não geraria grande impacto para o estado chinês. “Alguém está disposto a pagar o dobro do preço só porque o produto é ‘made in USA’?”, questionou. O palestrante aposta em uma vitória de Joe Biden, do Partido Democrata, nas eleições norte-americanas previstas para este ano.

Para o futuro, Tang avalia que a China fará a transição de uma economia hoje baseada em investimentos estatais e importações para um mercado mais focado no consumo interno, já que é o país mais populoso do mundo, com a maior classe média e de milionários do planeta. “A China deixará de ser um ‘país-fábrica’ e passará a ser um centro de inovação e ‘high tech’, oferecendo ao mercado produtos de maior valor agregado. A China não quer mais ser ‘made in China’, e sim ‘created’ ou ‘invented in China”.

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Bruno Merlin


Bruno Merlin é redator e jornalista especializado nos temas logístico e portuário. Graduado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), há dez anos colabora com o Portogente, além de publicar reportagens em outros veículos como Folha de S. Paulo, SBT/VTV e Revista Textilia.

E-mail: brunomerlin@portogente.com.br