Sábado, 18 Mai 2024

Do final do século XIX até as primeiras décadas do século XX, vinham para o Brasil navios de várias armadoras e nacionalidades: alemães, franceses, espanhóis, holandeses, italianos, britânicos e estadunidenses, entre outros.


O transatlântico francês Campana, ancorado no Porto

de Santos nas imediações do prédio da Alfândega, no dia
9 de dezembro de 1939. (Reprodução)

 

A França, porém, sempre marcou presença no Brasil, com navios famosos, de nomes marcantes e exóticos, como La Guienne, Ernest Simons, Chili, La Champagne, Jamaique, Eubée, Atlantique,Groix, Valdivia, Aurigny, Provence, Bretagne, Ville de Pernambuco, Alsina, Florida e Campana.

Esses navios, invariavelmente, passavam pelos portos portugueses e espanhóis, trazendo imigrantes de várias nacionalidades para o Brasil e países do Prata.

Este artigo não tem pretensões de contar a história dos navios de passageiros franceses, mas sim de lembrar uma passagem ocorrida em Santos, no dia 9 de dezembro de 1939, sobre o navio Campana, que escalou Santos todo camuflado, com o intuito de escapar dos submarinos alemães que bloqueavam o Atlântico.

 

O Campana fazia a linha Marselha-Gênova e portos

sul-americanos da Costa Leste. Navegou de 1929 até 1975.
Foi demolido em La Spezia, Itália. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

O navio pertencia à Societé Genérale de Transports Maritimes (SGTM), que era a terceira maior armadora da França, e estava no patamar das grandes CGT, Messageries Maritimes e Chargeurs Reunis.

A SGTM tinha vários navios, dos quais quatro com igual desenho e construção sólida, mas de design pouco atraentes. Eram o Mendonza, o Alsira, o Campana e o Florida. Para ser ter idéia das características desses navios, vejamos as informações técnicas do Florida, de 1926, construído no Estaleiro Ateliers et Chantiers de La Loire.


O transatlântico Florida, lançado em 1926, fazia

a mesma rota do Campana e foi demolido em 1968.

(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

Deslocava 9.331 toneladas, media 143 metros de comprimento, apresentava boca (largura) de 19 metros e navegava à velocidade de cruzeiro de 16 nós (29,6 quilômetros horários).

Transportava 279 passageiros: 59 na primeira classe, 108 na segunda classe e 112 na terceira classe.

Voltando ao Campana, vamos à noticia publicada em A Tribuna no dia 10 de dezembro de 1939, quando a Europa já estava em guerra.

 

Camuflados e artilhados chegaram o nosso porto os paquetes franceses 'Campana' e 'Formose'.

 

 

O transatlântico Valdivia foi construído no estaleiro francês

Chantiers & Ateliers, de Provence, foi lançado em 1912 e fez

viagem inaugural em 1913, na rota Gênova-Bordeaux-América

do Sul, foi demolido em 1933 em Gênova, Itália. (Reprodução)

 

“Foi intenso o movimento de ontem em nosso porto, figurando entre os vapores aportados dois paquetes de nacionalidade francesa.

O Campana, completamente camuflado, e de modo curioso, porque, além da pintura caracteristicamente cinzenta, apresentava raias negras, que também atingem uma de suas chaminés, chegou procedente de Buenos Aires, conduzindo apenas 15 passageiros, a maioria dos quais franceses, que residindo na Argentina, vão agora apresentar-se às autoridades militares do seu país, em espontânea incorporação ao Exército.

O Campana, apesar de ter entrado imprevistamente, prosseguirá viagem para a França, tendo ontem mesmo recebido provisões em nosso porto.

Está artilhado com dois caminhões de 75 mm e uma metralhadora antiaérea.


O transatlântico Groix, da Chargeurs Reunis, foi construído no

Estaleiro Forges & Chantiers de la Méditerranée, em La Seyne.

A viagem inaugural deu-se em 1922. Nele veio a Santos o

proprietário do Café Paulista, Manolo Rodrigues, em 1950. Foi

demolido em La Spezia, Itália, em 1952. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

O outro paquete gaulês ontem aportado em Santos é o Formose, da Changeurs Reunis, que procedeu de Havre, com escala em Dakar, até onde foi comboiado por vasos de guerra franceses, e Rio de Janeiro.

Como o Campana, o Formose está camuflado e dispõe de armamento defensivo, constituído de dois canhões e uma metralhadora antiaérea.

Fazendo rota de guerra, o barco gaulês tomou ainda outras precauções contra qualquer acontecimento imprevisto, de acordo com as determinações do Almirantado.


Partida do transatlântico La Bretagne, da Compagne de

Navigation Sud Atlantique, do Porto de Le Havre, França,

por volta de 1889. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

Os passageiros tinham sempre ao seu alcance o salva-vidas e as baleeiras, além de grandes flutuadores para serem utilizados em caso de naufrágio.

Entre os passageiros do Formose, destacam-se 70 exilados republicanos espanhóis, que se destinam a Buenos Aires. Trata-se, na maioria, de engenheiros, médicos, advogados, farmacêuticos e universitários, os quais combateram em favor da república como oficiais do Exército."

 

O transatlântico francês Massilia, da Compagne de Navigation

Sud Atlantique. A viagem inaugural deu-se no dia 30 de outubro

de 1920, na rota Bordeaux, Vigo, Lisboa, Rio de Janeiro, Santos,

Montevidéu, Buenos Aires. Ficou conhecido pelo famoso crime

da mala, onde a vítima foi Maria Fea, tida por muitos como

milagrosa. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)


Em 1940, com a ocupação da França pela Alemanha, esses navios deixaram de fazer a rota França-América do Sul.

Alguns retornaram somente após o conflito, como o Florida, que navegou até 1968, quando foi demolido para fins de sucata.

Como podemos notar, o Porto de Santos é uma fonte inesgotável de histórias superinteressantes e que muito nos fascinam.
 

Veja mais imagens:


O Lutetia, irmão do Massilia, fez a viagem inaugural em

1913, na linha Bordeaux-América do Sul, e afundou em 1938.

(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

Cartão-postal do final do Século 19, mostrando a possibilidade

de uma viagem de volta ao Mundo, com integração trem e navio.

(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

Embarque de passageiros rumo à América do Sul no

transatlântico Atlantique no final do Século 19 no Porto de

Bordeaux. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

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