Sábado, 04 Mai 2024

Constantemente recebo e-mails interessantes sobre assuntos diversos, de vários amigos, como Silvio Roberto Smera, Wanderley Duck, João Simões Reis Filho e José Carlos Silvares, dentre outros.

Como exemplo, esta mensagem que recebi tempos atrás de Wanderley Duck, onde ele conta o seguinte:

  • O nosso querido amigo Silvares me enviou este artigo que ele escreveu quando esteve a bordo do Augustus, em 1973, entrevistando o Mazzaropi, que viajava com a mãe.

Ele usou o navio como set de filmagem de parte de seu antológico filme Portugal, Minha Saudade, que existe em vídeo e que mostra bem o navio.


O transatlântico italiano Augustus, em manobra de atracação no Porto
de Santos - 1953. Era sempre esperado com admiração nos portos por
onde passava. Foto de autoria de José Dias Herrera. Col: L.J. Giraud

Sou admirador do transatlântico italiano Augustus, que visitei várias vezes quando de suas escalas no Porto de Santos como também no do Rio de Janeiro, e concomitante admirador do Mazzaropi, cujos filmes assisti a todos. Tudo isso somado ao filme Portugal, Minha Saudade, que assisti recentemente numa TV a cabo, resolvi repassar o artigo do jornalista e escritor José Carlos Silvares. Diga-se de passagem foi ele que me trouxe para o Portogente, onde prazerosamente escrevo semanalmente nesta coluna. Eis o texto, que na verdade é um registro histórico.
 
Augustus, na obra de Mazzaropi
 
escrito por José Carlos Silvares, jornalista e escritor
 
Em uma das muitas visitas ao navio italiano Augustus, em suas escalas regulares no Porto de Santos, em agosto de 1973, um senhor de bigodes me aguardava no salão da primeira classe. Era o comediante Mazzaropi, que seguia viagem até Lisboa, para sua única produção além-mar, já com nome definido: Portugal, Minha Saudade. Entrevistei Mazzaropi, revelei detalhes do filme, mas somente agora, depois de 34 anos, consegui ver a obra, já em DVD, em que imortaliza para a história alguns ambientes do inesquecível navio.


O sempre lembrado Mazzaropi, caracterizado de caipira para um
de seus filmes. Foi um dos maiores comediantes da história do 
cinema brasileiro. Col. J.C. Silvares

O filme é o reencontro de irmãos gêmeos, portugueses, que se separaram na infância. Sabino, o caipira, veio morar no Brasil com a avó; Agostinho, fica em Portugal com a mãe. Este, saudoso, vem buscar o irmão e o leva a passear em Lisboa e Fátima. A viagem é feita no Augustus. Mazzaropi interpreta os dois.
 
A bordo, o caipira se diverte no escorregador da piscina da primeira classe, passeia pelo convés, percorre alguns cômodos; o irmão, de terno e chapéu, faz o mesmo e, numa das mais belas cenas, olha o mar ao longe, tendo a proa do navio ao fundo. A bóia com o nome do navio também é mostrada.


Um dos salões do Augustus, onde Mazzaropi foi entrevistado
pelo jornalista e escritor José Carlos Silvares. Col: J.C. Silvares

O Augustus era um navio fantástico. Lançado ao mar em 19 de novembro de 1950, no estaleiro Cantieri Riunitti dellAdriatico, em Monfalcone, iniciou as travessias transatlânticas a partir de março de 1952, entre Gênova, Nápoles e portos sul-americanos. Era irmão-gêmeo de outro navio famoso, o Giulio Cesare, lançado seis meses antes.
 
Tinha linhas modernas e graciosas, produto do design italiano do pós-guerra, em que se destacavam a proa afiada e a poderosa chaminé com as cores da armadora Itália (o vermelho, branco e verde da bandeira italiana). O casco branco era outra marca registrada. Cada classe tinha sua piscina; salões e bares eram decorados com muito charme em tons pastéis.


O triste fim de um transatlântico que deixou seu nome gravado na
história da navegação. Estaleiro sucateiro de Alang, na Índia. Col: J.C. Silvares

Com 188,45 metros de comprimento e 27.090 toneladas, o Augustus tinha capacidade para transportar 178 passageiros em camarotes de primeira classe, 288 em cabinas e 714 na classe turística. Entre 1957 e 1961 fez 40 viagens na linha Gênova-Nova York. Depois, retornou à América do Sul, unindo cabinas e classe turística para 1.000 lugares. Permaneceu em escalas regulares até o dia 16 de janeiro de 1976, quando chegou a Gênova conduzido pelo capitão Benedetto Biaggini di Lerici e com 600 passageiros a bordo. O destino final do navio deveria ser Nápoles, onde seria demolido.
 
Mas o navio foi salvo na última hora. Uma empresa de Hong Kong o comprou e o rebatizou como Great Sea. Virou Ocean King em 1980, Philippines, em 1983, e President, em 1985., em rotas entre Hong Kong, Keelug e Kaohsiung. Esquecido do mundo, mudou de dono em 1987 e foi rebatizado como Asian Princess; seria transformado para servir como navio de turismo, mas o serviço nunca se concretizou. Ficou parado até 1997 e foi para Manila, nas Filipinas.
 
Novamente vendido, o navio foi docado em Subic Bay e retornou a Manila no início de 1999 para se transformar em hotel e restaurante flutuante, com entrada pelo famoso Manila Hotel. Recebeu o nome de MS Philippines e teve pintado no casco o letreiro Manila Floating Hotel & Restaurant. A 12 de outubro de 1999 foi inaugurado, com a presença do então presidente Joseph Estrada. O navio recebe turistas de todo o mundo. Em 2004 houve uma tentativa frustrada de vendê-lo à organização chinesa Dailang Maritime Scholl.


A bordo do Mariner of the Seas, o jornalista e escritor
José Carlos Silvares na companhia da esposa Marta

O Augustus resiste até hoje como hotel e restaurante flutuante na Baía de Manila. É um dos 26 antigos navios clássicos sobreviventes em todo o mundo.
 
O comediante Mazzaropi morreu em 1981, aos 69 anos. Deixou 32 filmes para a história. Entre eles, Portugal, Minha Saudade, com um pedaço da época de ouro do velho Augustus.

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