Domingo, 19 Mai 2024

Daniel Goleman é psicólogo, consultor empresarial e autor do livro Inteligência Emocional

Na era digital, todos nós sofremos com a versão da vida real de "catástrofe total": e-mails que não param de chegar, prazos, mensagens por telefone e mais, tudo ao mesmo tempo - sem mencionar os posts no Facebook, Instagram e todos os memorandos urgentes do nosso universo pessoal de redes sociais. Dada a ubiquidade dos smartphones e dispositivos afins, as pessoas hoje parecem lidar com uma carga muito maior de informação do que antes da era digital.

Décadas antes de começarmos a nos afogar no mar das distrações, o cientista cognitivo Herbert Simon fez a seguinte previsão: "O que a informação consome é atenção. Ter muita informação significa ter pouca atenção".

Além disso, nossas conexões sociais sofrem sua parcela de dano. Você já teve o ímpeto de dizer a uma criança para largar o celular e olhar nos olhos da pessoa com quem ela está falando? A necessidade para esse conselho está se tornando cada vez mais comum à medida em que as distrações digitais fazem outro tipo de vítima: habilidades humanas básicas, como empatia e presença social.

O ato simbólico do olho no olho, de colocar de lado o que estamos fazendo para nos conectarmos com outras pessoas, reside no respeito, interesse ou até mesmo amor. A falta de atenção para aqueles ao nosso redor é um indicador de indiferença. As normas sociais para atenção às pessoas que estão conosco mudaram de forma silenciosa e inexorável.

Mesmo assim, somos extremamente insensíveis a esses efeitos. Muitos nativos digitais, por exemplo, se orgulham de sua capacidade de executarem várias tarefas ao mesmo tempo, tocando o trabalho essencial enquanto navegam por outros canais. Mas pesquisas da Universidade de Stanford mostram que essa ideia é um mito -- o cérebro não é "multitarefa", apesar de ser capaz de trocar rapidamente de uma tarefa (trabalho) para outras (vídeos engraçados, atualizações de amigos, mensagens urgentes...).

As tarefas que exigem atenção não rodam paralelamente, como implica a multitarefa; em vez disso, elas demandam mudanças rápidas de uma tarefa para outra. E, a cada mudança, quando nossa atenção retorna à tarefa original, sua força é consideravelmente reduzida. São necessários vários minutos para atingir o grau de concentração total novamente.

O dano se espalha para todas as áreas da vida. Primeiro, a incapacidade de filtrar os ruídos (todas as distrações) do sinal (aquilo onde você tenta manter o foco) cria uma confusão sobre o que é importante, prejudicando nossa habilidade de reter o que tem valor. Pessoas que gostam de executar várias tarefas, pesquisadores da Stanford descobriram, se distraem com maior facilidade. E quando essas pessoas tentam focar na única tarefa que precisam concluir, seus cérebros ativam várias outras áreas além daquelas que são relevantes para a tarefa em questão -- um indicador neural de distração.

Mesmo a capacidade de ser multitarefa uma hora é danificada. Como Clifford Nass, um dos pesquisadores, colocou, profissionais multitarefa são "perdedores por irrelevância", o que dificulta não apenas a concentração, mas também a compreensão analítica e a empatia.

Controle cognitivo, por outro lado, nos ajuda a focar em um objetivo ou tarefa específicos e mantê-los em mente enquanto resistimos às distrações, habilidade danificada quando se realizam várias tarefas. Esse foco é essencial em trabalhos como controle de tráfego aéreo -- onde as telas podem ficar repletas de distrações que tiram o foco do controlador, como um determinado avião -- ou apenas em completar a lista diária de afazeres.

A boa notícia: controle cognitivo pode ser reforçado. Graduandos se voluntariaram para sessões de dez minutos onde cada um focava apenas em contar suas respirações ou realizarem outra tarefa: navegar pelo Huffington Post, Snapchat ou Buzzfeed.

Apenas três sessões de dez minutos de contagem de respiração foram suficientes para aumentar consideravelmente suas habilidades nas baterias de testes. E quem mais se beneficiou foram os multitaskers mais aguerridos, que marcaram pontuações baixas nos primeiros testes.

Se a multitarefa resulta em atenção fragmentada, exercícios de concentração com contar respirações abrem caminho para melhorias, ao menos no curto prazo. Mas não há indicação de que o impulso na atenção seja duradouro - a melhoria veio imediatamente após os exercícios e foi registrada como um efeito passageiro, não como um traço permanente. Os circuitos de atenção do cérebro precisam de mais esforços sustentados para criar um efeito estável.

Mesmo assim, até iniciantes na meditação podem afiar suas habilidades de atenção e obter benefícios surpreendentes. Por exemplo, pesquisadores da Universidade da California em Santa Barbara deram aos voluntários oito minutos para concentração total nas suas respirações, e descobriram que essa breve sessão de foco (comparada a ler um jornal ou apenas relaxar) reduziu os devaneios posteriores da mente.

Os resultados seguintes foram mais interessantes. Os mesmos pesquisadores deram aos voluntários um curso de duas semanas de concentração total na respiração, bem como nas atividades diárias, como comer, por um total de seis horas mais dez minutos de sessões intensivas em casa diariamente. O grupo de controle ativo estudou nutrição pelo mesmo período de tempo. Novamente, a concentração total melhorou a capacidade de foco e reduziu as distrações.

Uma surpresa: concentração total também melhorou o funcionamento da memória -- quando a mente sustenta uma informação para que seja transferida a uma memória de longo prazo. Atenção é crucial para o funcionamento da memória; se não estamos prestando atenção, aqueles dígitos não serão registrados.

Esse treinamento ocorreu enquanto os voluntários do estudo permaneciam na escola. A rápida melhoria na atenção e na memória pode ajudar a obter um resultado ainda melhor: a concentração total elevou suas pontuações em mais de 30% no GRE (Graduate Record Examination, exame norte-americano semelhante ao Enade, bastante utilizado em processos de admissão de mestrados). Estudantes, anotem isso.

Outra benefício que podemos extrair do controle cognitivo é o gerenciamento dos nossos impulsos, tecnicamente conhecido como "inibição de reação". Como dito no quinto capítulo do livro Altered traits, "Uma mente tranquila" (sem edição em português), no estudo de Cliff Saron, o treinamento aumentou a capacidade do meditador para inibir os impulsos ao longo de três meses e, de maneira impressionante, continuou forte após cinco meses. Uma melhor inibição dos impulsos traz consigo uma melhoria no bem-estar.

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