Segunda, 29 Abril 2024

Fortaleza, situado na enseada do Mucuripe, é um porto marítimo artificial que se destaca, em termos histórico e geográfico, dos outros do país. Devido a sua localização, é o primeiro porto a receber navios procedentes do hemisfério norte e o ultimo a ser escalado quando a navegação é efetuada em sentido contrário. Outro destaque importante é o fato de ser administrado por uma mulher.

 

Segundo historiadores, teria sido na Ponta do Mucuripe que o navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón desembarcou em janeiro de 1500, para se transformar no primeiro europeu a pisar em terras brasileiras, antes de Pedro Álvares Cabral atingir o sul da Bahia, em abril daquele ano.

 

Desde março de 2005, a diretora-presidente da Companhia Docas do Ceará (CDC), fato raríssimo no setor portuário, é a advogada Denise Carneiro Bessa. Com 43 anos, solteira, aprecia uma boa leitura, cinema, MPB e vinhos de qualidade. Ela concedeu entrevista à série de reportagens Portos do Brasil.

 

PortoGente: Como é presidir a docas em um setor predominantemente masculino?

Denise: A CDC é administrada por mulheres há dez anos. No final de 2003, fui convidada pela ex-diretora-presidente, Raquel Ximenes Marques, para coordenar a assessoria jurídica. Em quase dois anos, conseguimos desenvolver um trabalho que contribuiu para o bom êxito da gestão, subsidiando as decisões da diretoria executiva e orientando-a sobre os processos licitatórios. É gratificante presidir a docas porque, além de ser uma fascinante experiência profissional, tenho enfrentado novos desafios, solucionado problemas ou tentado ao menos minimizá-los, visando bons resultados. Nestes dez meses na presidência, tenho buscado ampliar os negócios das docas, na perspectiva de torná-la uma empresa rentável do ponto de vista econômico-financeiro e administrativamente saudável. Sou uma mulher de decisão, perfeccionista, mas tenho a virtude de reconhecer quando estou errada. Entretanto, sou enérgica no cumprimento das missões por mim delegadas, seja para homens ou mulheres. Exijo resultados e não vejo nenhum problema em comandar uma empresa tradicionalmente administrada por homens.

 

PortoGente: Sua visão feminina modificou algo na gestão do porto?

Denise: Claro que sim. Sou uma mulher simples, que tem as portas do seu gabinete abertas para qualquer trabalhador portuário ou empresário.  Gosto de acompanhar a tramitação dos processos jurídicos, das obras em andamento e observar as operações de embarque e desembarque de mercadorias no cais. A administração do porto quer modernizá-lo em todas as suas linhas operacionais, a partir de uma ação comercial mais agressiva.

 

PortoGente: A presença feminina é bem aceita e respeitada?

Denise: Com absoluta certeza. À exceção de duas diretorias, todos os postos-chave são ocupados por mulheres. É uma verdadeira república de mulheres, ou a república das saias, como é chamada. Temos mulheres nos setores comercial, jurídico, logístico, administrativo, no Consad e no CAP, aprovando e desaprovando pareceres, contas e missões de todos os trabalhadores, num clima bem profissional.

 

PortoGente: Qual é o perfil do porto?

Denise: A contribuição do porto no processo de industrialização do estado foi e é fundamental na geração de emprego e renda. Os equipamentos que formam o parque industrial do Ceará passaram pelo cais. O parque industrial da área retroportuária está avaliado em mais de U$ 2 bilhões. Também está em Fortaleza o segundo maior pólo trigueiro do Brasil.

 

PortoGente: Qual é o balanço da movimentação em 2005?

Denise: Segundo previsões, o porto deverá fechar 2005 com uma marca recorde de cerca de 3,2 milhões de toneladas movimentadas. Os principais produtos são: castanha de caju e frutas (bananas, melões, mangas); calçados e têxteis; camarões e lagostas; gorduras, óleos e ceras animais e vegetais; ferro, mármore e granito; móveis de madeira e de ferro; massas alimentícias; material de artesanato; e até perfumes e cosméticos. São quase 800 itens negociados para 150 países. A maior parte dos produtos é exportada para os Estados Unidos e Europa.

 

PortoGente: O que tem sido feito em infra-estrutura portuária?

Denise: Uma de nossas maiores preocupações é com a infra-estrutura, para garantir a operacionalidade no acesso e atracação de navios e na movimentação de mercadorias nos pátios. Existem projetos prioritários, como o do aprofundamento das bacias de evolução e do cais comercial. No momento estão sendo tocadas as obras de recuperação estrutural do píer petroleiro; reforma e reforço do cais comercial; construção do ramal aéreo de energia elétrica e a derrocagem de aprofundamento do berço 103. 

 

 

 

PortoGente: O que é feito para atrair novo negócios?

Denise: Estivemos em quase todos os eventos realizados no país em 2005, contatando clientes para trazer novas cargas ao porto. Atuamos junto aos empresários locais e regionais, oferecendo condições especiais para a movimentação de suas cargas. Graças a esse trabalho, recebemos quase 500 mil toneladas de cargas novas, sendo 400 mil de clínquer (tijolos feitos de escória de fornos siderúrgicos) e calcáreo, o que gerou uma receita de R$ 2 milhões. Em 2006, uma empresa de São Paulo movimentará de 80 mil a 100 mil toneladas anuais de fertilizantes. Para receber essa carga, que será feita através de um sofisticado sistema de esteiras, o armazém A-4 teve suas paredes reforçadas, assim como foi reformado um guindaste que opera até 300 toneladas por hora.

 

PortoGente: Fale sobre a temporada de navios de turismo.

Denise: Fortaleza é uma cidade turística e o porto faz parte dessa paisagem. O desembarque de brasileiros e estrangeiros movimenta uma fantástica máquina de negócios. Em 2004 atracaram 35 transatlânticos, desembarcando cerca de 10 mil turistas. Nesta temporada, os agentes de turismo dizem que esse número poderá chegar a 50, entre navios nacionais e estrangeiros. Montamos um esquema especial na estação de passageiros, para recebe-los da melhor maneira possível. Os navios estrangeiros são saudados por uma banda de música.

 

PortoGente: A Docas promove algum projeto social?

Denise: Firmamos parcerias com instituições públicas e privadas, para disponibilizar estágios profissionalizantes. Atualmente contamos com 20 estagiários de nível médio. São dez no Programa Federal Primeiro Emprego e outros dez no Programa Centro Integração Empresa-Escola (CIEE). Para o nível superior, a CDC disponibiliza 40 vagas para estagiários dos cursos de administração, jornalismo, engenharia, contabilidade, economia, direito e pesquisa em gestão ambiental. 

 

PortoGente: Como é a relação com o meio ambiente?

Denise: Mantemos atualizados todos os processos de licenciamento, desde o aspecto administrativo e operacional, até as obras de aprofundamento em andamento. As licenças de operação e instalação estão renovadas e mantemos o porto dentro do controle e monitoramento ambiental exigido. Adotamos a coleta seletiva dentro do cais, além do controle e destinação dos resíduos sólidos e líquidos gerados nas operações. Está em fase final de implantação o convênio com instituições de ensino superior para realizar estudos e trabalhos na área ambiental sob a coordenação do Núcleo do Meio Ambiente, composto por membros multidisciplinares empregados na CDC, e que disponibilizará duas vagas para estágios em gestão ambiental.

 

PortoGente: Como se dá a relação Porto-Cidade?

Denise: A CDC participa da elaboração do Projeto Orla (programa do Ministério do Meio Ambiente e Patrimônio Geral da União) para intervenção na orla de Fortaleza, O programa visa estabelecer as diretrizes da ocupação do solo da costa cearense. Além disso, no contexto da sustentabilidade ambiental e social, o porto integra sua ação sócio-ambiental com a disponibilidade dos resíduos da coleta seletiva implantada nas suas áreas administrativas e operacionais.

 

PortoGente: Há algum projeto para 2006?

Denise: O Porto de Fortaleza está em permanente ritmo de obras. O consórcio Ster Engenharia e Contemat Engenharia está construindo uma cortina de contenção no entroncamento do cais comercial nos trechos dois e três para permitir as obras de aprofundamento para 13 metros. Paralelamente, a Bandeirantes Dragagem e Construções está fazendo a derrocagem de aprofundamento do berço 103. A Engea Construtora está concluindo as obras do Centro Integrado de Atendimento, que concentrará todas as instituições que operam nas docas, como Receita Federal, Secretaria da Fazenda, Anvisa, Policia Federal e Ministério da Agricultura. A força do Porto de Fortaleza está justamente na perspectiva de crescimento.  

Fotos: Companhia Docas do Ceará
Website: www.docasdoceara.com.br

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